segunda-feira, novembro 14, 2005

O muro

Ouve-me. Deixa-me falar-te da vida dos homens, os livres, os oprimidos, aqueles que têm tudo e aqueles que não têm nada. Pensa na sua dor e alegria, nas suas mágoas, conquistas, pensa no seu desejo de liberdade e no seu desejo de a encarcerar. Vê como eles agem, como eles pensam, como eles levam a sua vida pensando sempre no paraíso ou ansiando por um inferno que não pode ser pior que o inferno em que já vivem. Ouve as palavras inflamadas de quem luta, de quem vive, de quem trabalha, de quem morre, e ouve ainda o que dizem os velhos, os novos, os recém nascidos, os que ficaram por nascer e os que ficaram por morrer.
E olha para o Muro. Descobre nas suas paredes de chumbo o significado e insignificância da alma humana, identifica nas suas pedras os fantasmas da estupidez humana, e percorre ainda a sua infinitez. O Muro é maior que toda a força, toda a alegria, toda a raiva... maior que o homem e que deus, maior mesmo que a morte. Aproxima-te e toca-lhe, deixa a tua alma ser desenhada a martelo e escopro. Sente os pregos que atravessam a tua mão. Grita de dor, deixa as paredes enegrecidas beberem a tua agonia. É o preço por conhecer o Muro. Tudo o que existe acaba aqui.

1 comentário:

Julieta disse...

Tomar consciencia da existencia do que chamas o "muro", é reconhecer as maiores barreiras na vida, é o principio do verdadeiro sofrimento... espreitar pelo muro é dar uma facada na vida, é escolher a intensidade aliada para sempre á dor, é o risco do conhecimento sem o voltar atrás, quem vê jamais esquece, jamais gozará da inocencia e doce ignorancia, mas a vivacidade dos momentos e profundidade dos sentimentos pagam a cota da dívida. Gostei da maneira como pegaste em todas estas realidades, continua.

Um beijo